quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Rede de Educação Cidadã
quarta-feira, 29 de julho de 2009
O Che da UFSC

: O Che da UFSC
A primeira vez que o vi, passava na frente do Centro de Cultura e Eventos da UFSC. Ele estava no topo das escadas, e seu olhar me fazia entender quem mandava ali. Acho que pelo meu ângulo de visão - eu embaixo, ele em cima - o apelido surgiu fácil: o chamamos de Reitor.
Logo depois fiquei sabendo que o nome que me veio à cabeça não havia sido dado à-toa, apesar de ele ser conhecido por diversas outras alcunhas. Era um líder nato: onde houvesse movimento, reivindicações ou festas, ali estaria, à frente das massas, mostrando o caminho. Com todo o carisma e a vocação política, foi lançado como candidato para ocupar o cargo máximo na reitoria. Blogs, panfletos, cartazes e camisetas lhe igualaram ao Che. Numa das manifestações, onde estudantes adentraram ao gabinete do reitor, em 2007, ele não se fez de rogado: sentou-se na cadeira magnífica.
O sofá e o tapete do gabinete, naquele dia, também serviram para aconchegar seu pequeno corpo rebelde. E em outra época, já acostumado a chamar a atenção, desfilou sobre a mesa do Auditório da Reitoria, contravenção devidamente registrada por uma emissora de TV. Com ou sem a burocracia eleitoral, já se sentia eleito, pois o que importava mesmo ele possuía: a espontânea aprovação popular.
Simples, como todos os seus semelhantes, almoçava no Restaurante Universitário, contentando-se com as sobras que lhe traziam os alunos. O campus era o seu quintal, onde passou 12 dos seus 12 anos, desde quando seu destino, imposto pelos homens, determinou que ali fosse abandonado à própria sorte. Mantinha, talvez por ter sido relegado, aquele olhar falso de indiferente superioridade. Falso, porque mostrava que ainda acreditava no ser humano quando alegremente se unia à bagunça cotidiana dos estudantes. Acho que seguia a filosofia de seu xará: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”.
No frio mês de julho ele se foi, mais ou menos como o Che original, sem se despedir de ninguém. Foi enterrado em seu quintal querido, porque acredita-se que, apesar de algumas faltas e outra meia dúzia de necessidades, era o lugar que mais amava no mundo. Não era só um simples cachorro, ainda que cachorros simples e todos os outros animais também devessem merecer o direito à dignidade.
Che Catatau agora irá acompanhar as próximas manifestações lá de cima. Quem tiver ouvidos livres do especismo poderá escutar seus latidos a guiar os estudantes.
Por Cláudia Schaun Reis/ Jornalista na Agecom
Foto: Léo Nogueira
domingo, 28 de junho de 2009
Congresso da Association Internationale pour la Recherche Interculturelle
O XII Congresso da ARIC, a se realizar em Florianópolis, Brasil, no período de 29 de junho a 03 de julho de 2009, focalizará a promoção dos Diálogos Interculturais: descolonizar o saber e o poder, que constituem a ação humana. Nesta direção, poderá tomar como interlocutores todos os agentes sociais, pesquisadores, profissionais, governantes, interessados em construir “um outro mundo possível”, ou numa perspectiva plural, “outros mundos possíveis”, nos quais os saberes e as ações superem as relações arcaicas de poder entre países, entre culturas e entre atores sociais, para estabelecer o diálogo e a solidariedade.
De modo particular, a ARIC, neste congresso, buscará realizar um debate que problematize as estruturas de saber, de poder e de ação colonizadoras que se configuram nas relações interculturais, que atravessam as sociedades no atual contexto de globalização. Estas estruturas, ainda submetidas ao fluxo, às contradições e à história dos poderes tradicionais são responsáveis pela configuração das identidades culturais de classe, de etnia, de gênero, de geração, de diferenças físicas e intelectuais. Elas devem ser analisadas, questionadas, colocadas em debate e em diálogo entre pesquisadores e agentes de diferentes países, diferentes continentes e diferentes comunidades.
A parceria com instituições de grande relevância, tais como universidades e associações científicas, no contexto brasileiro, latino-americano e internacional, garante ao XII Congresso da ARIC o diálogo científico interdisciplinar internacional de alto nível e potencializa de modo significativo seu impacto sociocultural.
http://www.aric2009.ufsc.br/
sexta-feira, 29 de maio de 2009
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Pescadores de Cultura
Nesse carnaval de 2009, como é de tradição, vamos falar de Cultura Popular. Vai ser um passeio realçando manifestações artísticas do povo do lugar, lendas, crenças e chamando todos a se inserirem nessa luta pelo fortalecimento da identidade do povo daqui, Santo Ântônio , Sambaqui. Pescadores de Cultura,é o nosso enredo e também nosso propósito. Leia abaixo a belíssima letra do samba .
PESCADORES DE CULTURA - Autoria: Denise de Castro
VAI BUSCAR O TIPITI QUE HOJE TEM FARINHADA
FESTA DA CRUZ LÁ NO SAMBAQUI
EM SANTO ANTÔNIO COMEÇOU A BATUCADA
É O BAIACU QUE VEM POR AÍ BIS
PESCADORES!
PESCADORES DE CULTURA JÁ É HORA DE LANÇAR
NOSSA REDE PELO MAR DA CULTURA POPULAR
PÃO-POR-DEUS TERNO DE REIS O DIVINO E A CHAMARRITA
TE ALEVANTA BOI DOURADO
VEM DANÇAR O PAU-DE-FITA BIS
NÃO PODEMOS ESQUECER AS NOSSAS TRADIÇÕES
O PRESENTE SEM PASSADO É UM MUNDO DE ILUSÕES
VAMOS TODOS APRENDER COM OS SERES FANTÁSTICOS E REAIS
A LIÇÃO DO MESTRE FRANKLIN JOAQUIM CASCAES
NO BALANÇO DA BRUXA QUERO BALANÇAR
VIGIAR PELOS ARES COM O BOITATÁ
RECOLHER ESTRELAS PRA UMA REDE TECER
E A BELA ILHA PROTEGER BIS
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
PÃO-DURISMO DE NATAL
Sou pão-duro proclamado e assumido. Essa qualidade (ou defeito?) tem muito a ver com o Natal, por incrível que pareça.
Sou o mais velho de 9 irmãos de papai Léo, falecido, e mamãe Lúcia, muito viva, trabalhando em casa e na roça aos 82, em Santa Emília, Venâncio Aires, interior do interior do Rio Grande do Sul. Nos anos cinqüenta, uma das principais fontes de renda de um pequeno agricultor era o leite, vendido diariamente. A safra de fumo, que então se plantava lá em casa, é anual; portanto, entra dinheiro uma única vez. Papai economizava muito, distribuía os ganhos ao longo do ano, mas o leite de cada dia muitas vezes salvava a pátria. Era preciso economizar e haver leite para vender. Assim, eu, o mais velho, uma fileirinha atrás de mim, lá pelos 6 ou 7 anos tinha a missão de deixar leite para os outros. Solução? O mais velho não toma leite para sobrar para os mais novos. Resultado? Nunca mais tomei leite na vida, e por muito tempo nem comia queijo ou qualquer outro derivado, à exceção, não sei porque, de nata.
Uma fileira de muitas bocas também não permitia muitos presentes de Natal. Mesmo assim, noite de Natal a gente custava a dormir, das ‘Krist Kindchen’, Menino Jesus, – então pouco se conhecia Papai Noel, o ‘Pelz Nickel’ - viria a qualquer momento do céu. De manhã todos queriam acordar por primeiro para ver os presentes na cesta de cada um, ‘im Haus’, na grande, enorme sala de casa, usada só para ocasiões especiais: o presépio, alguma rara festa e velórios.
Os presentes eram poucos, mas sempre havia os chocolates, em geral grandes, e o que se recebia de padrinhos e madrinhas, em alegre romaria pela vizinhança e parentes. Mamãe era a encarregada de distribuir módica e metodicamente o que se ganhava. ‘Escondia’ tudo em cima de um armário alto dentro do seu quarto. Ai de quem se aproximasse, coisa, que eu saiba, nunca aconteceu! Nada de comer tudo no dia de Natal ou dias seguintes. Tudo era racionado para durar o maior tempo possível, de preferência até a Páscoa, quando vinha o ‘Haas’, o coelhinho.
Imaginem os chocolates durarem dois a três meses! Cada dia havia uma sessão de distribuição de algum doce ou pedaço de chocolate. Como eram saborosos aqueles pedaços de chocolate depois do meio dia por longos meses!
Assim nasceu meu pão-durismo, fortalecido pela disciplina alemã, afirmado depois no Seminário, onde o dinheiro e tudo mais eram racionadíssimos, até por conta da pobreza franciscana.
Assim tem sido ao longo do tempo e da vida. (Mas conheço de perto três pão-duros mais pão-duros que eu: Lula, Olívio Dutra e o senador Paim. Arrancar alguma coisa dos três é tarefa de mestre. Lula e Paim nunca carregam dinheiro no bolso. Estão sempre ‘desprevenidos’. Olívio carrega uns trocados, contados; no máximo servem para seu próprio gasto, quando ele não consegue achar alguém que o socorra na hora de pagar.)
Não sou, porém, pão-duro para algumas coisas. Nunca deixei de contribuir na política e para o Partido dos Trabalhadores, para os movimentos sociais e pastorais. E não pouco. Daí pra frente, é racionar os chocolates para durarem bastante tempo, e nunca ser pego desprevenido.
O Natal, portanto, além do nascimento de Jesus, a boa nova, tem este componente pessoal, de poucos presentes e raros, e de cuidar bem do pouco que se tem ou ganha. O consumo pelo consumo, o consumismo, não me alcança. Dependesse de mim, o capitalismo estaria falido faz tempo, muito antes da atual crise. O Natal é sinal de pobreza franciscana, o que não deixa de ser louvável nos tempos que correm.
Feliz Natal para todas e todos! Obrigado pela companhia ao longo do ano. Valho-me das palavras de Leonardo Boff, em mensagem de agradecimento que me dirigiu por artigo que escrevi nos seus 70 anos, acontecidos em dezembro:
Toda criança quer ser homem.
Todo homem quer ser rei.
Todo rei quer ser ‘Deus’.
Só Deus quis ser criança.
Selvino Heck
Assessor Especial do Presidente da República
Em vinte e três de dezembro de dois mil e oito
(Ele é mesmo muito pão-duro, posso afirmar!é daquele que usa sandálias Havaianas com arame quando arrebenta as tiras...)
sábado, 6 de dezembro de 2008
Criando o Espírito do Mutirão
Todo mutirão tem alma. Na verdade, a força organizadora do mutirão é o espírito de solidariedade, de amizade e de humanidade. O mutirão não acontece quando a ação em conjunto é realizada por imposição ou por interesse. Nenhuma burocracia é geradora do mutirão.
O mutirão pode sim ser festa, mesmo em meio à dor da tragédia. Ela é festa no organizar, no fazer, e, por difíceis que sejam os trabalhos a serem realizados, eles podem ser feitos em meio à música e versos da cultura popular e ou religiosa. O trabalho não realiza, aqui só obras materiais, ele muda, transforma, recria as pessoas participantes. O mesmo trabalho que enfrenta a tragédia humaniza as pessoas que o realizam, sejam elas o objeto do motivo da ação, os profissionais cuja ação é voltada para a garantia do sucesso do trabalho ou voluntários impulsionados pelo sentimento de solidariedade...
O mutirão é uma prática educativa, todo ele, desde sentidas as necessidades, decididas e organizadas as ações. A educação se faz presente em todas as relações que geraram o espírito presente na cultura do mutirão. E se torna mais presente a cada avanço do grupo que se vê como igual, enquanto comunidade de seres humanos que compartilham o mundo.
...Trago abacaxi de Goiana
E de todo o Estado rolete de cana.
Eis ostras chegando agora,
Apanhadas no cais da Aurora.
Eis tamarindo da Jaqueira
E jaca da Tamarindeira.
Mangabas do Cajueiro
E cajus da Mangabeira.
Peixe pescados no Passarinho,
Carne de boi dos Peixinhos.
Siris apanhados no lamaçal
Que há no avesso da rua Imperial.
Mangas compradas nos quintais ricos
do Espinheiro e dos Aflitos.
Goiamuns dados pela gente pobre
Da avenida Sul e da Avenida Norte
( Morte e vida Severina, João Cabral de Melo Neto)
Esse texto tem fundamentação nas cartilhas da Rede de Educação Cidadã – Talhe r- e no sentimento de solidariedade pela tragédia em Santa Catarina provocada pela ação de predadora do homem.