domingo, 23 de novembro de 2008

A história das coisas...

Nesse vídeo, Annie Leonard fala da cadeia produtiva, de como foi planejada sem levar em conta a finitude dos Recursos Naturais e de que nós, Seres Humanos somos parte dessa natureza.
Assita o filme de 20 minutos e comente...

sábado, 1 de novembro de 2008

OPORTUNIDADE


            Oportunidades históricas não aparecem todos os dias. A crise econômico-financeira que está acontecendo no mundo parece ser uma e não pode ser perdida. Diz-se sempre que toda crise abre espaços para o novo e o diferente, para a ruptura, para a mudança. Fora da crise, as instituições são sólidas, não é permitido o questionamento de sua modelagem, muito menos de seu conteúdo. Mas quando se instala a crise, seja no plano social, seja no plano estrutural, seja no plano privado e pessoal, tudo é colocado em xeque, pergunta-se sobre tudo, formulam-se opiniões, constroem-se consensos antes impossíveis, age-se de forma inesperada e imprevisível.

             Não se sabe ainda a extensão da atual crise, sua profundidade, quanto tempo durará. Segundo Paul Krugman, que acabou de receber o Prêmio Nobel de Economia, “a economia real continuará sofrendo”. Por sua vez, o ‘pai’ do Consenso de Washington, John Williamson, que deu base ao neoliberalismo, diz: “O que estamos vendo são as conseqüências do modo como os Estados Unidos vem se comportando há vários anos. A recessão nos EUA é inevitável. O que não sabemos ainda se será uma forte e rápida recessão ou alguma coisa bem mais prolongada”. 

             Já o grande intelectual de esquerda, Noam Chomsky, diz: “Eu não vejo nenhuma indicação de que as instituições básicas do capitalismo estejam prestes a serem significativamente modificadas. Vivemos numa cultura altamente ideológica na qual ‘estatização’ é uma palavra que põe medo, como ‘socialismo’. Perguntado sobre qual tipo de capitalismo vai emergir da atual crise, Chomsky responde: “O capitalismo de Estado será provavelmente muito parecido ao atual, com um pouco mais de regulação e controle sobre as instituições financeiras,que serão reconstruídas com os bancos de investimento. Não há, pelo menos agora, indicações de mudanças dramáticas”.

             É do que se fala todos os dias, páginas e páginas de jornais, noticiários de televisão, até o povo na rua já se pergunta sobre a tal crise, quais as possíveis conseqüências sobre sua vida, seu emprego, seu salário. No meio do turbilhão, as opiniões são muitas e variadas, à luz do vetor ideológico de cada um e dos eventuais interesses em jogo.

             A Comissão Nacional da Rede TALHER de Educação Cidadã, reunida na Chácara do CIMI em Luziânia, fez uma análise de conjuntura, tendo por ponto de partida e centro a ótica dos movimentos sociais, dos governos de esquerda, no objetivo de uma mudança estrutural e popular.  Pelo menos três constatações foram unânimes. A primeira: o capitalismo não está em fase terminal. O que está em crise é um determinado tipo de capitalismo, o neoliberal, implantado a ferro e fogo nas últimas décadas, a partir de Margareth Thatcher na Inglaterra, Ronald Reagan nos Estados Unidos e da ditadura chilena de Pinochet, experiências depois assumidas e seguidas em todo mundo, inclusive no  Brasil, com Collor e FHC. Segunda:  a hegemonia e o poderio americanos (como da Europa e do Japão) estão enfraquecendo. Os países dominantes do último século ou perderão liderança ou ao menos serão obrigados a reparti-la com os BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China. Terceira: os valores neoliberais estão em questionamento. Não se realizaram, não trouxeram a felicidade prometida, não resolveram os problemas do mundo e da humanidade.

             A partir destas constatações, os educadores da equipe nacional do TALHER e os representantes (dois) de cada uma das cinco macro-regiões brasileiras concluíram que esta talvez seja uma oportunidade a não ser desperdiçada. Nos anos oitenta, os ventos da mudança sopraram no Brasil. Organizaram-se movimentos sociais em nível nacional, partidos de esquerda, foram construídos governos populares. A luta de massas estava em ascensão. Nos anos noventa, ao contrário, o descenso marcou as lutas e as organizações sociais de esquerda. Divisões, fragmentação, perda do referencial utópico foram as marcas principais. Nos anos dois mil, houve avanços e houve retrocessos. O novo surgiu na recusa popular aos modelos neoliberais, através da eleição de governos de esquerda e centro-esquerda na América do Sul, ainda que as lutas de massa muitas vezes não fossem as principais propulsoras das vitórias.

             Agora, pode estar-se abrindo novo período. O projeto de sociedade pregado à exaustão, baseado no livre mercado, na competição, no Estado mínimo, nas políticas sociais compensatórias, desmoronou. O projeto de desenvolvimento que se lixava para a natureza, o meio ambiente e a distribuição de renda está-se esvaindo por entre os dedos. É momento de recolocar na cena política e no debate social qual sociedade se quer, sob que valores deve ser construída, com que fundamentos econômico-sociais. Assim como é hora de pensar e repensar qual desenvolvimento é o desejável, como nele incluir todas e todos, como preservar o meio ambiente e a natureza, o que significa uma vida saudável, o que é qualidade de vida.

             A Rede TALHER de Educação Cidadã (assim como o Projeto Escolas-Irmãs) propõe-se a contribuir nesta reflexão. Todos os setores preocupados com o futuro estão convocados. É preciso realizar seminários, retomar processos de formação permanentes, animar todo e qualquer debate, diálogo, troca de idéias, escrever e divulgar experiências, é preciso organizar as lutas do povo pobre e trabalhador. Não é hora de desanimar. Quando as contradições emergem e se tornam visíveis, é hora de desmascará-las, colocá-las a nu, dialeticamente revolvê-las, para que na síntese surja o novo, a esperança, em forma de justiça social, de solidariedade, de garantia dos direitos, de democracia, de partilha.

 

Selvino Heck

Assessor Especial do Presidente da República

Aula de vôo

O conhecimento caminha lento feito lagarta:
Primeiro não sabe que sabe
e, voraz contenta-se com cotidiano orvalho,
deixado nas folhas vividas das manhãs.
Depois pensa que sabe e se fecha em si mesmo:
faz muralhas, cava trincheiras, ergue barricadas.
Defendendo o que pensa saber,
levanta a certeza na forma de muro
orgulhando-se do seu casulo.

Até que maduro explode em vôos,
rindo do tempo que imaginava saber
ou guardava preso o que sabia.
Voa alto sua ousadia,
reconhecendo o suor dos séculos
no orvalho de cada dia.

Mesmo  vôo mais belo descobre um dia não ser eterno.
É tempo de acasalar, voltar à terra com seus  ovos
à espera de novos e prosaicos lagartos.

O conhecimento é assim:
ri de si mesmo e de suas certezas.
É meta da forma , metamorfose, movimento, fluir do tempo
que tanto cria como arrasa
e nos mostra que para o vôo
é preciso tanto o casulo como a asa.
                                     ( Mauro Iasi)