quarta-feira, 29 de julho de 2009

O Che da UFSC


: O Che da UFSC
A primeira vez que o vi, passava na frente do Centro de Cultura e Eventos da UFSC. Ele estava no topo das escadas, e seu olhar me fazia entender quem mandava ali. Acho que pelo meu ângulo de visão - eu embaixo, ele em cima - o apelido surgiu fácil: o chamamos de Reitor.

Logo depois fiquei sabendo que o nome que me veio à cabeça não havia sido dado à-toa, apesar de ele ser conhecido por diversas outras alcunhas. Era um líder nato: onde houvesse movimento, reivindicações ou festas, ali estaria, à frente das massas, mostrando o caminho. Com todo o carisma e a vocação política, foi lançado como candidato para ocupar o cargo máximo na reitoria. Blogs, panfletos, cartazes e camisetas lhe igualaram ao Che. Numa das manifestações, onde estudantes adentraram ao gabinete do reitor, em 2007, ele não se fez de rogado: sentou-se na cadeira magnífica.

O sofá e o tapete do gabinete, naquele dia, também serviram para aconchegar seu pequeno corpo rebelde. E em outra época, já acostumado a chamar a atenção, desfilou sobre a mesa do Auditório da Reitoria, contravenção devidamente registrada por uma emissora de TV. Com ou sem a burocracia eleitoral, já se sentia eleito, pois o que importava mesmo ele possuía: a espontânea aprovação popular.

Simples, como todos os seus semelhantes, almoçava no Restaurante Universitário, contentando-se com as sobras que lhe traziam os alunos. O campus era o seu quintal, onde passou 12 dos seus 12 anos, desde quando seu destino, imposto pelos homens, determinou que ali fosse abandonado à própria sorte. Mantinha, talvez por ter sido relegado, aquele olhar falso de indiferente superioridade. Falso, porque mostrava que ainda acreditava no ser humano quando alegremente se unia à bagunça cotidiana dos estudantes. Acho que seguia a filosofia de seu xará: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”.

No frio mês de julho ele se foi, mais ou menos como o Che original, sem se despedir de ninguém. Foi enterrado em seu quintal querido, porque acredita-se que, apesar de algumas faltas e outra meia dúzia de necessidades, era o lugar que mais amava no mundo. Não era só um simples cachorro, ainda que cachorros simples e todos os outros animais também devessem merecer o direito à dignidade.

Che Catatau agora irá acompanhar as próximas manifestações lá de cima. Quem tiver ouvidos livres do especismo poderá escutar seus latidos a guiar os estudantes.

Por Cláudia Schaun Reis/ Jornalista na Agecom
Foto: Léo Nogueira

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